Um tributo ao respeito
''Lamento informar-te, mas para o bem da nação foi decidido renegar a tua identidade como um soldado em missão.''
Desdaí ele morreu. A sua família ficou de luto durante 6 meses, todos choraram a sua morte. A sua mulher orgulhava-se de ter sido casada com um homem como ele e o seu filho o via como um herói.
Se tivesse mesmo morrido, talvez teria sido mesmo um. Mas o que morreu foi apenas o seu amor pela pátria. Como lhe poderiam ter feito algo assim, mesmo depois da maneira que mostrou fiel e disposto a morrer ao serviço? Agora como é que um renegado sem nome, sem país, um ninguém pode provar que no fim de contas, fez o que fez? Todas aquelas vivências românticas já não passam de uma mentira aos olhos do público... Um ódio ascendeu-lhe ao peito! Tinha que se vingar, embora já mais teria imaginado algum dia destruir tudo aquilo que acreditou e honrou. Mesmo assim... Tinha que se vingar! Na morte de um soldado, nasceu um monstro.
Interrogava-se, qual seria a maneira mais cruel, mais violenta e impiedosa de se vingar? Para pagar dente por dente e moeda por moeda aquilo que o fizeram, não conseguia imaginar outra coisa senão matar o grande líder. Não, não apenas isso, tinha que matar o grande líder diante de todos, todos aqueles que veneram este Estado como ele uma vez venerara.
Uma vez feita a decisão, um homem que não passava de cão vagueou quatro anos e meio para puder morder de volta. Fazendo tudo que era necessário para a concretização do que pretendia, finalmente se aproximava do seu alvo.
Só depois de terminar tudo, numa altura que só restava esperar, impaciente com o tempo, lembrou-se do seu passado. De repente recordou que uma vez fora feliz, pai de um filho e marido de uma mulher. Lágrimas subiram lhe aos olhos. Como foi possível durante quatro anos não se lembrar deles? As únicas pessoas que ainda o faziam sentir pegado à este mundo? A resposta estava dentro dele ------- o ódio que possuía. Era demasiado forte, e a necessidade de vingar sangue por sangue dominava-o. Como poderia perder a garra e sangue fria na véspera do grande evento? Precisava de estar disposto à tudo. não podia prender-se às emoções, sobretudo à vontade de viver. Se ainda algo o fizesse querer prender-se a este mundo, ele estaria destinado a falhar.
Tinha que acabar com a própria família, não teve dúvidas disso. Não porque o queria, mas sim porque precisava. Ao chegar a esta conclusão as lágrimas pareciam sair dos olhos desfocados e a respiração pesava como se os seus pulmões fossem feitos de chumbo. Porém, como as chamas que apagam com ventos impiedosamente frias, sensações também se foram apagando. Assim desertou o último bocado vivo dentro de si. Visitou um lugar onde num passado distante chamaria de lar e saiu de lá com nada para além de cartuchos vazios.
Instantes depois, um monstro que uma vez fora homem, soldado e pai subiu ao palco. Olhou à sua volta, vendo tudo tal como esperava: luzes, câmaras, faces ansiosos, apontados nele. Sorriu relaxado, levantou a sua arma, e num silêncio até sereno, disparou-a.
Por fim, o demônio ardeu nas suas próprias chamas.